terça-feira, 31 de agosto de 2010

LIVRO "DO REAL IMAGINADO"


Estado de poema

Sair atrás de uma estrofe
e não mais voltar.
Cruzar mil palavras;
compactar o cérebro,
agrupar-se, prosseguir-se;
deparar o estado
de poema.

É como um lago fundamental
de idéias em silêncio
onde a voz gera o que nomeia.

Minha estrofe forma-se
do próprio substrato:
atende não ao esforço,
mas ao chamado.


Do imaginário

Na canoa veleira,
Rildo queixa-se:
Dezesseis anos atrás,
uma arraia atravessou-lhe
a perna;
até hoje sente fisgadas –
quando é lua cheia.
Inventa?
Pesco a noite marajoara
que o orienta.


O Eu de João

João Cabral
não expressou
a personalidade:
concretizou-a.
Não se forjou
um Eu: forjou-o.
Blocos e lâminas,
rombudo de tão solar.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

LIVRO "DO REAL IMAGINADO"


Pulsar

Pelo tempo plano, inteiriço,
viajar a um ponto
em que o Sol for já extinto

e detonar um verso
na indiferença
ggggggggggggiplena

gggggdo universo.


Ciclos

Re’começar,
concluir um círculo
e partir noutro,
e dentro de um
espira outro dentro de outro
e todos dentro de outro:
a partir do universo,
redondo como um rio.

Meu pensamento é um cometa
por expansas esferas
desprendendo frases diretas:
o último círculo
encerrará o infinito.


Quase gravura

Na selva de hemácias e água,
o dicionário artesiano
abre-se sozinho,
após o tempo’ral;
o sol, aos pingos,
desabotoa-se
sobre casulos-de-verbo.
À pedra – à sua medida vulcânica -
se não retempera a chama borbulhante:
gema – de magma extinto,
clara - de carvão.
A pedra, condenada a estar-se:
ainda que lhe prorrompa a água
no alto da serra.

Reverdecer a própria lava.

Onde o sol não se assola,
onde não se greta o rio,
nem o vento sopra ferrugens
nas lanugens,
um diamante forma-se: de tempo.